Fukang! Caiu Do Céu?

O meteorito de Fukang foi descoberto em 2000 nas montanhas perto da cidade de Fukang, no deserto de Gobi, província de Xinjian, na China e é talvez o mais espantoso pedaço de pedra extraterrestre que conhecemos. A sua descoberta é considerada uma das maiores descobertas de meteoritos do século 21.

A história é que foi descoberto por um caminhante que parou para almoçar em cima duma grande pedra e reparou nos cristais e metal que a compunham. Partiu alguns pedaços e enviou-os para análise que confirmou serem de um meteorito.

Um negociante chinês obteve a massa, com um peso total de 1.003Kg. Em Fevereiro de 2005, o meteorito, então já com 983Kg pois o seu proprietário tinha-lhe retirado um pedaço de perto de 20 Kg, foi levado à Exposição de Gemas e Minerais de Tucson, nos Estados Unidos, onde foi visto por Dante Lauretta, professor de Ciência Planetária e de Cosmoquímica da Universidade de Arizona e investigador principal da missão OSIRIS-REx, da NASA.

Foi depois estudado por uma equipa da Southwest Meteorite Center, Lunar and Planetary Laboratory, da Universidade de Arizona, composta pelo professor Dante S. Lauretta, Dolores H. Hill, Marvin Killgore, Daniella Della-Giustina e Yulia S. Goreva.

Mais tarde, foi cortado ao meio. Uma das metades vendida no mercado comercial de meteoritos e a outra a Marvin Killgore, membro da equipa da Universidade de Arizona que o estudou.
Muitos dos pedaços de palasitas que aparecem à venda são provavelmente partes da primeira metade do Fukang. Os preços costumam oscilar entre 50 a 100€ por grama. Killgore cedeu a sua metade à Universidade do Arizona, onde está em exposição, depois de lhe ter sido retirado um pequeno bloco com 31Kg que está depositada no ‘Southwest Meteorite Laboratory’ da Universidade e destinada à investigação.
Em 2008, Marvin Killgore, proprietário do que é agora o maior pedaço do Fukang, com 420kg, pô-lo em leilão na Bonham em Nova Iorque onde foi avaliado em 2,7 milhões de dólares mas não houve compradores interessados, e não foi vendido.

Os palasitas são um tipo raro de meteoritos. Estão documentados 99 palasitas encontrados na terra, enquanto os tipos mais comuns de meteoritos chegam às dezenas de milhares de exemplares. O Fukang é sem dúvida o mais bonito da classe dos palasitas (que representa perto de 1% de todos os meteoritos) e um dos maiores em tamanho e peso, com mais de uma tonelada, o que é raro pois a maior parte desintegra-se quando da sua entrada na atmosfera terrestre. A sua idade estimada é de 4,5 mil milhões de anos, o que quer dizer que tem a mesma idade que terra ou é ainda mais antigo. Acredita-se que teve origem no interior de um meteorito criado durante a formação do sistema solar.

Este tipo de meteoritos, de tipo ferro-rochoso receberam o nome de Peter Simon Pallas, médico, zoólogo e botânico alemão que descobriu o primeiro, em Krasnoyarsk na Rússia em 1772.
Os palasitas formam-se a partir do interior do asteróide, entre o manto e o núcleo. A sua estrutura cristalina peculiar resulta dum arrefecimento e solidificação muito lentos (alguns graus por milhão de anos) sem influência gravitacional e em asteróides anteriores à formação dos planetas do sistema solar.
O Fukang é principalmente composto por ferro-níquel (de cor prateada) com cristais translúcidos de olivina. A olivina e uma pedra semi-preciosa, que se encontra na terra como parte da composição do peridotito, rocha pertencente ao grupo das rochas basálticas e principal constituinte do manto superior da Terra. Estas rochas devem o seu nome ao peridoto, e são os fenocristais de olivina ou peridoto que constituem a maior parte do seu volume que frequentemente conferem a estas rochas uma coloração esverdeada ou amarelo-esverdeada.

No meteorito Fukang, estes cristais têm uma distribuição heterogénea e tamanhos que podem ir desde alguns milímetros até vários centímetros e formas variadas, arredondada ou angular, estando muitos fracturadas (hipótese de choques violentos). São impressionantes quando vistos com iluminação de fundo, transparentes e com uma cor maravilhosa.

O ferro-níquel de origem extraterrestre destes meteoritos é distinto do que se encontra na Terra porque seu conteúdo de níquel é muito superior aos minérios de ferro da terra. Este alto teor de níquel no ferro dos meteoritos faz com que seja muito resistente à ferrugem, podendo manter-se sem oxidação durante milhares de anos. Daí a beleza do metal brilhante que rodeia as pedras de olivina deste exemplar.

A maioria dos investigadores planetários concorda que os palasitas se formam a partir da zona de fronteira manto-núcleo de um asteróide que se separou nos seus elementos constituintes pois contêm o material de silício do manto e o material metálico do núcleo, antes de ter solidificado. (Os grãos de olivina estão rodeados pelo metal baseado em ferro e níquel).

Relativamente a como é que os palasitas se formam há várias teorias: cristalização perto da superfície de um asteróide que está extremamente quente; cristalização numa fusão provocado por impacto ou condensação de partículas celestes como ocorreu com os planetas.
A mais difundida é a que diz que o silício fundiu por entre a olivina do manto sendo suplantada por metal níquel-ferro fundido, mas a equipa da Universidade do Arizona, da qual faz parte Dante S. Lauretta produziu um estudo em 2006 que sugere que o meteorito de Fukang foi formado por um evento de impacto sobre o asteróide, uma fusão violenta entre a olivina e o metal causada pela onda de choque do evento.

Segundo o professor Lauretta, estudando palasitas como o Fukang, “podemos começar a compreender processos muito no interior dos asteróides e como é que estes asteróides evoluíram e derreteram nas fases iniciais da geologia do nosso sistema solar”. “Mas (o Fukang) também nos dá uma visão acerca do que pode estar a acontecer bem fundo no interior do nosso próprio planeta”.

Segundo Daniella Della-Giustina, outra cientista que participou no estudo da Universidade de Arizona, “O que diferencia o Fukang de todos os outros meteoritos conhecidos, e mesmo de outros palasitas é a presença de um mineral chamado tridimita em pequenas inclusões dentro da olivina”. “A tridimita é semelhante ao quartzo mas tem uma estrutura cristalina diferente, e não coexiste habitualmente com o tipo de olivina que predomina no Fukang, que é rica em magnésio. Os dois minerais formam-se com pressões, temperaturas e condições químicas muito diferentes, por isso é fora de vulgar que possam ocorrer ao mesmo tempo”. “Tendo estes dois elementos que se deveriam formar em condições muito diferentes e um encapsulado no outro diz-nos que se (algum factor ambiental) mudou, deve ter mudado muito rapidamente”. “É o género de coisa que nos faz pensar”.
Os investigadores hipotetizam que o palasita pode ter sido sujeito a uma fase de “reaquecimento”, através do qual o metal foi de alguma forma injectado na olivina que se tinha formado no asteróide, fazendo com que a olivina aquecesse rapidamente. A tridimita pode ter sido posteriormente cristalizada a partir de porções derretidas de olivina.
Della-Giustina diz que a equipa também encontrou outro mineral em inclusões microscópicas no palasita Fukang, que os cientistas ainda não foram capazes de identificar. A composição é parecida com a da granada, mas as medições com difracção de raios X foram inconclusivas. “Não fomos nunca capazes de determinar qual é que era a estrutura cristalina real”. “Pelo que sabemos, pode tratar-se de um novo mineral”

Os cientistas do Lunar and Planetary Laboratory esperam ainda aprender mais acerca deste mineral, e desvendar ainda mais mistérios acerca do Fukang, como determinar as origens da tridimita assim que obtenham financiamento para continuar a investigação.

 

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